Por Walter Biancardine (*)
O brasileiro típico tem uma agilidade olímpica para apontar o dedo e urrar diante de quaisquer deslizes ou erros alheios, pouco importando quem os cometa. Tal ânsia sinaliza apenas o complexo do macaco que aponta o rabo do colega, para que não vejam o seu.
Em outras palavras, enquanto o jornalista Glenn Greenwald é servido à la carte na carnificina dos churrascos de domingo como prato do dia, todos os acusadores tentam superar os vizinhos no quesito “gritos indignados de repúdio”, para que o assunto não caia naquele mal-entendido de quinta-feira, onde o mesmo foi pego bolinando a funcionária de cargo inferior – mas com uma bela buzanfa – no galpão do estoque.
O brasileiro típico tem um QI médio de 83, rivalizando com chimpanzés e perdendo para golfinhos e elefantes, mas é alguém impermeável a conceitos de moral, valores e princípios – não porque seja uma má pessoa e os recuse, mas pelo simples fato de não possuí-los e, muito menos, jamais terem ouvido falar sobre isso, pois os pais estavam ocupados demais nas redes sociais ou nos botequins para gastarem tempo com essas bobagens – então, há que se carcar impiedosamente as taras e perversões de Verdevaldo pelo fato exposto acima e também, ninguém é de ferro, porque renderá muitas risadas e o tornará o centro das atenções por uns 10 minutos.
Mas o pior lado desta anomia civilizacional que se abateu sobre o Brasil nos últimos vinte anos – sim, já não podemos ser considerados como uma civilização, apenas um aglomerado que se reproduz – é o fato de, adestrados pelas novelas da Rede Globo, havermos trocado nossas opiniões políticas pela simples torcida, tal qual nos paredões do Big Brother. Assim, povo, políticos e influencers de direita exultam com as duras medidas tomadas pelo governo Trump contra Alexandre de Moraes crendo, piamente, que uma tropa de “Mariners” desembarcará em Brasília e o levará preso para Guantânamo. Ninguém nunca, em tempo algum, atinou que o cabeça-de-ovo está se lixando para isso – pelo contrário, existe a real possibilidade que tais medidas sejam usadas como um belo pretexto para abolirem as redes sociais do país e endurecerem, de forma exponencial, a já presente censura nas mesmas ou em qualquer outra que venha a ser instalada ou permitida.
Que diabos temos a ver com as taras de Verdevaldo? A única lição que fica disso é a certeza de que o vazamento intencional de tal vídeo era o que o mantinha calado, ele e seu pen drive com 6 terabytes de podridão. E Reinaldo Azevedo? E tantos outros que viraram casaca? Pois nada, nada aprendemos com isso e, pior, nos recusamos a aprender.
Quais motivos para festejar as dentadas de Trump no cabeça-de-ovo? Nenhum, apenas as redes podem ser silenciadas de vez e uma ainda mais feroz censura poderá vir, plenamente “justificada”.
E por que raios ainda falamos de política? Alguém acredita mesmo que eleições derrubem ditaduras? Que novas leis serão permitidas pelo Soviet Supremo Togado?
É hora de acordarmos e nos darmos conta que o pior já aconteceu, e não tem mais volta.
E por nossa única e exclusiva culpa – a eterna omissão covarde do brasileiro médio, de QI 83 torcedor do Big Brother.
Agora aguentem. O pior mal começou.